sábado, 27 de março de 2010

O Codice: Capitulo 5 - Ao Por do Sol





E lá estavam os dois. Gabrielle e Bernard correndo por um campo florido e sentados a beira de um belo rio, uma cesta de piquenique com sanduíches e bolos, ela dando um pedaço de torta a um Bernad sorridente e a cabeça dele se inclinando em direção a sua e finalmente Gabrielle acorda naquela manhã ensolarada. Pela primeira vez que via o sol entrando desse jeito em casa. Os lençóis não mais tinham aquele cheiro da primeira noite que acordara, graças ao esforço da garota estavam limpos e cheirosos. O corpo ia se mexendo embaixo do edredom querendo dormir por mais um pouco, o sonho era tão bom. Finalmente as orbes azuis pousam no travesseiro, vazio, ao seu lado. Ele já saíra.

- Será que pelo menos ele tomou café? - Fala com aquela voz rouca de sono e vai se levantando tentando lembrar por que se sentia tão triste, mas então lembra da conversa da noite anterior e entende. – Essas coisas não deviam acontecer com todo mundo... Bonne cadê você garoto? .

Chama pelo cachorro que vem com a cabeça baixa, a cauda entre as pernas.
- Hey garoto o que ouve será que... – Se levanta correndo e vai até a cozinha, as vasilhas de água e comida dele estavam vazias.

– Ai me perdoa Bonne!!! Foi sem querer eu juro! – Ia tirando o pote onde agora guardava a comida dele, antes ficava em um saco aberto no meio da cozinha e ele podia comer a hora que queria, mas acabava juntando bichos e deixava a ração mole. E pra melhorar a situação. O pote estava quase vazio.

- Bem tem um pouco aqui e vou ter que comprar mais. Volto logo okay? Só vou me trocar. – Enquanto falava enche a vasilha de água e coloca o resto da comida na outra. O cachorro logo engolia o pouco da comida e olhava pedindo mais.

- Calma já vou trazer. – Se trocava, um vestido simples de alça com pequeno decote, uma sandália rasteirinha e pronto. Mesmo lembrando do que o B falara pra não sair, não tinha como deixar o cachorro com fome. Mexia num lugar secreto que descobrira onde o B guardava o dinheiro, a lata de café. Tirava apenas o suficiente pra comida do cachorro e mais alguma coisa pro almoço. Abria a porta da cozinha e saia pelos fundos, de vagar e com calma. Murmurando alguma música, saltitando em alguns passos, aqueles dias estavam sendo ótimos, quase esquecia dos seus próprios problemas pra cuidar dos de Bernard. Isso estava sendo realmente bom. Sentia aquela sensação de estar sendo seguida e olha pra trás num impulso. Não tinha ninguém. Estava tudo deserto.

- Deixa de paranóia Gabrielle... – Continua seus passos mas a sensação não a abandona, tem a impressão de ver alguém em cima de um dos telhados pulando para o outro. Agora sim acha que ficou maluca de vez. Mas logo um pássaro passa voando.

- Foi só um pássaro não é?! - Ela mesma tentava acreditar nisso até que ao avistar o mercado sorri aliviada.
- Comida pra cachorro comida pra cachorro comida pra cachorro, ah! Aqui! – Finalmente acha a seção e escolhe uma ração qualquer que vira recentemente o comercial. – Acho que o Bonne vai gostar dessa. Agora preciso de sabonete, sabão em barra e um desodorante pro B e ele realmente precisa de um. – Passando pras seções pegando tudo e colocando na cestinha.

- Almoço, num sei o que faço pra hoje – Andava na seção de congelados. – Lasanha! Ótimo! – Pegando uma embalagem e segue para o caixa, pra sua sorte vazio.

- Vinte e três e setenta. – A voz do balconista a tira do rápido devaneio.

- Obrigada... – Paga e recebe o troco o colocando numa das sacolas onde sua pequena compra já fora embalada. Agora era só ir pra casa, descongelar a lasanha e esperar o B chegar para comer, ler um livro, brincar um pouco com o Bonne e seria o fim de um ótimo dia.

- And she will be loved... And she will be loved… - Cantava enquanto ia andando e se aproximando da ruela por onde passara anteriormente com a sensação de estava sendo observada, o pássaro que voara ainda estava lá e parecia que não tirava os olhos dela. Besteira era só um pássaro! Continuava seguindo seu caminho até avistar a casa.

- Finalmente! – Olha de canto pra um carro que passava ao seu lado e estaciona em um beco ali perto. Apenas um vizinho talvez. Entra em casa lembrando de trancar bem a porta como o B mandara, na verdade ele a dissera pra não sair de casa mas isso não vem ao caso. Mal entra e Bonne já sente o cheiro da comida e começa a pular em cima dela e das sacolas. Com os braços erguidos ela vai tentando fugir erguendo os braços pra impedir das sacolas serem rasgadas.

-Ow ow ow calma garoto calma senta senta! Seeeeennnta! – Ria, se divertia com a cena. Bonne permanecera sentado após a primeira ordem. Ela coloca a comida na tigela e o olha de canto. – Hey já pode comer ta?! – Não precisou mandar duas vezes e ele já atacava com voracidade a ração.

- Me perdoa por ter esquecido sua comida viu? – Colocava as pequenas compras no lugar e agora se dar conta de que se esqueceu da bebida. Deixou a lasanha congelada em cima do balcão pra que descongele. – Ah droga! Bonne vou sair novamente, comprar um refrigerante pro almoço! Espero que o B não chegue antes de mim ou vou tomar uma bronca. – Olhava pela janela vendo o sol se por.

- A essa hora já não é mais almoço e sim jantar! Ai que fome e o B que não aparece. – Vai saindo novamente fechando a porta deixando a chave embaixo do tapete, seguindo o mesmo caminho que passara mais cedo. Dessa vez não cantava, caminhava rapidamente. Tinha medo que B chegasse e descobrisse que ela saiu, bem isso ele descobriria de todo jeito mas com ela já estando em casa o sermão talvez fosse menor.

- Nessas horas queria ter asas! Seria bem mais rápido – Ri de sua frase digna de uma criança de seis anos. Já entrara no mercado acenando pra o balconista que a atendera mais cedo. – Esqueci a bebida! – sorri boba indo buscar e logo volta, acaba pagando o refrigerante no mesmo balcão. Sprite, a favorita do B.

- Obrigada e volte sempre, mas espero que hoje mais não né?! – O balconista sorri junto a ela e acena ao vê-la ir embora. Fazendo aquele caminho pela segunda vez, quase decorara as casas do lugar.

- To morrendo de fome, espero que o B não demore mais ou vou jantar... Quem é você?! O que quer??? Ei não... Espera! Ahhhhhhhhhhhhhhh. – E o grito já é abafado pelo saco preto colocado em sua cabeça.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ao Por do Sol - Capitulo 1



O som dos sapatos caros e bem engraxados que andavam pela rua silenciosa e deserta poderia ser ouvidos a quilômetros de distância, mas ele não queria ser ouvido e não era. Já era tarde para alguém caminhar na rua a essa hora mas ele estava ali e não temia qualquer que fosse as ameaças, pelo menos não as ameaças para os reles mortais que estavam aquecidos sob seus edredons caros e suas lareiras acesas. A sua voz então ecoa como se estivesse fazendo um discurso fúnebre, um tom etéreo e calmo.


- 14 de Outubro de 1980, uma data para ser lembrada mas que deveria ser esquecida. Eramos todos jovens e imaturos, não sabiamos de nada da vida, nem da morte. Mas acabamos aprendendo forçadamente. Era isso ou perecer sob os pés daqueles animais. Onnwww sim. Aqueles animais de vitae tão doce. E hoje entendemos que nunca deveríamos ter entrado naquela casa, mas éramos jovens, a adrenalina correndo na veia, o bater acelerado do coração e a fama que isso dava no dia seguinte eram combustível suficiente pra todas as loucuras que fazíamos naquele tempo. Ainda somos crianças comparados a nossos criadores mas, qual seria o problema nisso?!

Tal ser trajava calças de couro pretas e um corsete feminino de mesmo tom, mas que pela ausência dos seios e excesso de músculos mais parecia um top, ele não se importava com isso. Por cima um sobretudo roxo berrante e cobrindo seus olhos demoníacos um óculos escuro de armação púrpura.

- Sim!!! Crianças da noite!!! Os melhores anos de sua vida, ops, de sua morte! Não os percam jamais! Sorria, coma, pule, cante, dance e irrite seus papais! Nunca esqueçam de manter os caninos afiados, de armas de prata para nossos inimigos lobos e por ultimo mas não menos importante, nunca se esqueçam do protetor solar!

Ao recomeçar a falar sua expressão mudara completamente, tom da voz, postura... Agora parecia sobre o palco de um teatro lotado onde todos tinham os olhos pousados na performance que ele vos apresentaria! Passos de dança ponteiam o caminho, bancos se tornam trampolins, muros viram cordas bambas e seu espetáculo começara.

- Mas eu não vim aqui dar-lhes aulas sobre sua pós vida querido! Vim falar-lhe da Flor! Sim a bela Flor! Que tomou o coração de seu mestre o arrancando e... O devorando! Tal mestre jamais perdoou tal traição! Assim como Tal Flor jamais viu a luz de Tal sol, mas bem isso ela já não fazia a muito tempo! Tal Flor tinha um sorriso de derreter o coração dos mais funestos seres e um vitae de causar os mais infames desejos e se fazer realizar os mais funestos pecados. Uma simples gota e PIMBA! Você estava em suas mãos. Numa bela tarde ensolarada com o luar iluminando o mar no sertão tal Flor se encontrava ali plantada tão sozinha e solitária no orfanato onde morava! Era maltratada pela Senhoria malvada e pelos moradores mais velhos do lugar, alguns deles são até amigos dos meus amigos! Ou será que primo dos meus primos? Mas minha árvore genealógica não vem ao caso agora pois estou a falar da Flor! Ela morou no orfanato por muitos anos, pois ainda os viviam longamente. Não como os séculos que vive agora, até o seu mestre a encontrar e visitar sua janela todas as noites, ora veja só que história de amor mais piega e romântica! Mas a Flor não sabia que ele estava ali! E assim os anos se passaram, para a Flor cada ano era longo mas para o, oras ele não tem nome ainda?! Bem vejamos, se ela é a flor, ele vai ser O Espinho claro! Bem onde eu estava?! Ah sim! Para a flor cada ano era longo, mas para o Espinho eram apenas grãos de areia em sua ampulheta! Numa bela noite de lua ensolarada a Flor foi até a janela, viu o Espinho e aí o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada! O cravo saiu ferido e a rosa despetalada! Vejam só! O cravo ficou doente e a rosa foi visitar! A rosa teve um desmaio e o cravo pôs-se a chupar o sangue da rosa! Mas não é rosa é Flor! E a Flor morreu nos braços do Espinho mas o Espinho fez a Flor viver novamente! Mas eles não viveram felizes para sempre! Só por alguns séculos até a Flor conhecer o... O... Preciso de um nome pra ele também! Flor, Espinho, bem ele vai ser Arbusto! Então a Flor conheceu o Arbusto que a fez se apaixonar por ele! Mas veja só que crueldade! A Flor traiu o espinho enfiando-lhe uma estaca de madeira em seu peito e sugando todo o seu sangue! Ora vejam só que crueldade! O Espinho dormiu então para sempre em sua caixa de madeira e a Flor teve todo o seu sangue sugado pelo Arbusto e foi dormir também!

Nesse momento ele já estava sentado e um banco numa praça, se levanta, caminha alguns passos, ergue os braços e faz uma reverência.

- Eu sou Cleff Portman o anfitrião desta noite e essa foi a história da Flor, do Espinho e do Arbusto! Obrigado, vocês foram uma platéia maravilhosa.

Vira-se e volta pelo caminho de onde veio com os mesmo passos e agora com a postura que adotara anteriormente. Parecendo um Lorde ou algo mais, sua sombra vai o seguindo pelos passos lentos, o som dos passos vai morrendo ao longe, sua sombra vai sumindo ao longe, sua forma vai sumindo ao longe mas seu cheiro atiça a curiosidade de alguns seres que rondavam o lugar.