E o galo cantava. Mas que diabos de galo era esse que cantava às 2 horas da madrugada? Levanta-se com sacrifício, o corpo pedia pra continuar na cama assim como a cabeça ainda pendia para os lados, o bocejo involuntário faz a boca se escancarar e o mau hálito matinal embaçar o espelho em cima da pia, matinal? Ainda eram 2 horas da manhã! Não gosta muito da imagem refletida, um homem na casa dos 25 com a barba por fazer, os cabelos castanhos já roçando os ombros estava sem brilho e com pequenos toques de grisalho adiantado. Ergue os braços sentindo o odor que sai debaixo de suas axilas, precisava urgente de um banho. Se afasta mirando o próprio corpo, agora sim gostava da imagem. Músculos ligeiramente definidos ainda mais com a força que fazia para contraí-los.
-Isso aí garotão – Fala enquanto mudava de posição checando os tríceps, bíceps e afins. Se vira encarando o boxe do banheiro imundo, também precisava limpar a casa mas, para que? Empurra a porta e liga a ducha, nem precisara tirar a roupa. Dormia pelado. Gostava da liberdade de morar sozinho, roupas sujas, comida espalhada, garrafas vazias, teias de aranha e uma camada grossa de poeira cobria os moveis do quarto. O sabonete ressecado era esfregado contra o corpo rapidamente, estava atrasado. Por que o maldito galo não cantou uma hora antes? Sai do banheiro molhando tudo por onde passa, pelo menos dava uma limpadinha no chão. Esfregava a toalha na cabeça e a deixava pendurada ali enquanto vestia a calça de couro e uma regata branca.
-Hora do trabalho... Bonne?! -Grita pelo labrador que sai debaixo da cama balançando a cauda.
-Tem comida pra você na cozinha, cuide da casa. Eu volto assim que acabar garotão. – E dizendo isso faz um pequeno afago nos pelos do cão, que também precisava urgente de um banho e de um bom anti-pugas.
Abrindo a porta da cozinha que ligava a casa a garagem e com movimentos rápidos ia abrindo o porta malas do Dodge Charllenger vermelho, levantando o step e olha pra o mostrador digital, qual era mesmo a senha? Olha pra placa do carro e digita o que via, a lâmpada verde acende e abre o fundo falso. Era um verdadeiro arsenal, glocks, facas, adagas, algemas, dinamite, granadas e uma 38. O orgulho do papai, e é para esta que leva a mão e a coloca no coldre que já estava fixando ao corpo e do outro lado uma glock 9mm. O Sobretudo pendurado no banco traseiro era jogado sobre os ombros, as mãos desciam pelo corpo entrando no bolso da calça e puxam o celular, digita um número que sabia de cor. É atendido rápidamente. Aproveitava para calçar um all star vermelho acinzentado de tão velho.
- Esquina da 48 com a Lexton, 4º andar. Anotado. – E já desligava o telefone apertando o botão que abria a garagem. Saindo dirigindo como qualquer cidadão americano educado, sem cantar pneu, indo a 40km/h, passando pelo primeiro radar entra na esquina mais próxima. Caminha até a traseira do carro com uma chave de fenda na mão, retira a placa e a vira a parafusando novamente, faz o mesmo com a placa da frente e agora sim. Esse era o Wacklon, deixa um longo rastro do pneu no chão e segue pra o endereço. Chegara mais rápido que o previsto. Era um prédio desgastado com o reboco já caindo, lugar perfeito para tal ponto de encontro.
-E lá vamos nós... Isso tá ficando monótono de mais... – Descendo do carro fecha a porta com um “coice” deixando uma marca ligeiramente limpa na pintura. Subia as escadas abrindo e fechando a boca como se murmurasse alguma música, a face entediada começa a subir dois degraus de cada vez. Bastou chegar no andar pra começar a ouvir os gritos.
- Ah merda já começaram... – Puxa glock do coldre a destravando. Ouvia o chão ranger sob os seus pés, mas esperava que eles não ouvissem. Com tantos gritos seria impossível. O plano de sempre, arromba, grita, entra, mata, sai. Novamente sem testemunhas, sem reféns, sem herói. Todos tinham que morrer. O pé abre a porta e os dedos trabalham rápido junto com os olhos. Um, dois, três, corpinhos, quatro, cinco, seis corpinhos tombam ao chão. Aproxima-se dos corpos e só pra se certificar, puxa o 38 e da um tiro na testa... Em segundos os corpos viram cinza.
- Humph... fracotes... Com bala de prata? Nem precisei cortar a cabeça fora. Saco... - Se aproxima do corpo feminino nu que estava preso à cadeira tombada e se abaixa a olhando. Os cabelos vermelhos colados à face pelo sangue que se destacava na brancura da pele, os lábios carnudos entreabertos como num ultimo grito de dor, os seios fartos colocavam dúvidas em sua cabeça quanto a idade da garota, continua correndo os olhos pelo seu corpo torneado que apesar de toda a sujeira e os leves cortes conservavam tamanha beleza. Nos pulsos pequenas letras lhe chamam a atenção por um segundo, mas logo um comichão passeava pelo seu corpo levando uma sensação boa. Se pega por um momento pensando em deixá-la ali, viva. Mas não podia, ela provavelmente fora corrompida. Erguia a glock a aproximando do cenho da bela face, a mão tremia, o corpo travava uma batalha contra a mente e quando percebe, brilhantes orbes azuis miravam seu rosto como numa súplica para continuarem brilhando.
- Por favor... Não... Por favor me deixe ir não me machuque mais... Por favor... – E a voz tão doce paralisa aquela mente que conhecia tão bem o mal. Mas não podia parar não agora. Um movimento, um estampido. Estava tudo acabado.
Continua...
~ Proibida Cópia total ou parcial sem meu prévio consentimento.
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